Pinturas listradas e batatas fritas

Silva constrói uma pintura que se estende a tudo que vai de encontro com o olhar, um olhar que volta incessantemente ao amarelo, as listras e as padronagens, concebendo no mundo sua visualidade. Até que ponto as batatas fritas e caixas do mcdonald's podem ser suporte e vetor, onde as listras já foram dadas e podem ser realocadas em um encontro formal, trazendo a realidade como ferramenta primordial, mas uma realidade que se altera dentro dos caprichos do olhar pictórico.

Se evidencia a interdependência entre luz, corpo e objeto, ao mesmo tempo que essa luz colore toda matéria que encontra, também se contamina por ela e o corpo que percebe o espaço também se torna objeto na medida em que é contaminado pela cor. A luz aqui, em sua imaterialidade, se torna material e suporte das obras. Mais uma vez temos o protagonismo da visão na experiência de mundo proposta por Gustavo, o amarelo é potência em si mesmo e na relação visceral que tenciona.

O artista constrói uma topografia da cor, investiga seus limites, suas características, percebe onde e quando ela se desdobra, e assim passa a modelá-la na matéria do mundo, articulando seu olhar para se permitir o arrebatamento da pintura. O trabalho nasce de um esforço construtivo, mas se desenvolve em uma revelação constante e intencional da mão do artista, rompendo o lugar imaculado da obra de arte e as distâncias entre ela e o espectador.

As pinturas se desenvolvem em um estudo óptico, além de evidenciar constantemente o papel trivial mas por vezes menosprezado da visão, brinca com seus limites e suas percepções, posicionado o olhar como exercício.

O exercício aqui também é sensorial, tátil. As texturas, a cor, o uso da comida, colocam em questão uma lógica do desejo, endossado pelo uso dos objetos do Mcdonald's, pensa quais são as táticas que estabelecem o desejo de consumo, como isso se estabelece no mercado da arte e mais importante como se desdobra quando é usado como matéria prima de um conjunto de obras e qual é o lugar do desejo quando ele é despertado pelo encontro com a pintura.

Fevereiro de 2021
Malu Serafim


 

Striped paintings and French fries

Silva constructs a painting that extends to everything that meets the gaze, a gaze that incessantly returns to the yellow, the stripes and the patterns, conceiving his visuality into the world. To what extent can French fries and mcdonald's boxes be support and vector, where the stripes have already been given and can be relocated in a formal encounter, bringing reality as a primordial tool, but a reality that changes within the whims of the pictorial gaze.

The interdependence between light, body, and object is made evident; at the same time that light colors all matter it encounters, it is also contaminated by it, and the body that perceives the space also becomes an object to the extent that it is contaminated by color. The light here, in its immateriality, becomes material and a support for the works. Once again we have the protagonism of vision in the experience of the world proposed by Gustavo; yellow is potency in itself and in the visceral relationship it intends.

The artist constructs a topography of color, investigates its limits, its characteristics, perceives where and when it unfolds, and thus begins to model it in the matter of the world, articulating his gaze to allow himself the rapture of painting. The work is born from a constructive effort, but develops in a constant and intentional revelation of the artist's hand, breaking the immaculate place of the work of art and the distances between it and the spectator.

The paintings develop in an optical study, besides constantly highlighting the trivial but sometimes overlooked role of vision, plays with its limits and perceptions, positioning the gaze as an exercise.

The exercise here is also sensorial, tactile. The textures, the color, the use of food, call into question a logic of desire, endorsed by the use of Mcdonald's objects, think what are the tactics that establish the desire for consumption, how this is established in the art market and more importantly how it unfolds when it is used as raw material for a body of work, and what is the place of desire when it is aroused by the encounter with painting.

February 2021
Malu Serafim