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Em Três quadrados amarelos, intervenção proposta pelo artista Gustavo Silvamaral para a Galeria Karla Osorio, encontramos três painéis capazes de sintetizar diversos elementos da pesquisa do artista que vem se desdobrando em uma série de ações, objetos, instalações, desenhos e pinturas. A pictorialidade, ou seja, os elementos e formas de representação fundamentais da pintura que a tornam um meio específico de produção e circulação de imagens e imaginários são esmiuçados, tensionados e aprofundados no processo do artista. O que sobressai, nesse caso, é principalmente a questão cromática, no caso o amarelo, uma das três cores primárias, servindo como geradora de todas as outras. Contudo, a redução à esse único elemento de cor é apenas um modo de evidenciar ainda mais as distintas materialidades e potencialidades que ela pode adquirir.

Gustavo Silvamaral, se aproveita de telhas de plástico, elementos ordinários de nosso cotidiano, presente em variadas construções, mas que, isoladamente, capturam nossa atenção pelas suas características formais, as ondulações de sua superfície produtoras de ritmos; e materiais, devido sua transparência, permitindo a contaminação entre os espaços que ela atravessa e uma nítida interação com a luz. O encantamento pelos objetos comuns e seu deslocamento para o espaço artístico, causando estranhamento e contaminação entre o que se considera estético e trivial constitui uma tradição na arte, marcadamente desde Duchamp. Silvamaral, contudo, modifica essas estruturas, adicionando faixas tinta esmalte amarela e lâmpadas da mesma cor, pois seu interesse não está na mera transposição de um lugar a outro, mas na investigação de diferentes materiais e sua relação com a cor, seja ela pigmento, ou luz.

Emerge então, na superfície corrugada das telhas o amarelo que busca torná-las opacas, jogando com as luzes e sombras dadas nas próprias ondulações da superfície, ora sendo feitas nas depressões, ora nos cumes, por vezes nos entres. A suposta pureza do pigmento se faz contaminar pelas irregularidades do suporte que projeta sombras e planos. A utilização da lâmpadas da mesma cor também aponta para a articulação entre luz e pigmento, sendo a primeira capaz de colorir e contaminar os corpos próximos, assim como a segunda ilumina o território vizinho, basta lembrar que Kandisnky considerava a luminosidade como propriedade do amarelo.

Os três quadrados, apesar de semelhantes em sua forma, não constituem um múltiplo, uma mera repetição formal. O artista parte de sua gramática pictórica, a utilização de faixas cromáticas, ressaltando o caráter dinâmico da cor, para criar trabalhos quase instalativos, pois se dispõem em diferentes espaços, ocupando-os de outras formas, ressaltando que a experiência com o objeto de arte está fortemente atrelada aos ambientes que ela ocupa e os modos como o faz. É justamente pela similaridade que podemos ver ser refundada a diferença de cada composição. A compreensão da impureza, da discrepância estão inseridas no processo do artista, que não se preocupa com aparências e figurações assépticas, mas visa reinstaurar o afeto da gestualidade tateante, incerta, pois humana, que irrompe mesmo nas configurações mais industriais.